“A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oséias – o lugar do primeiro amor (cf. Os 2,16-17). Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte à vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a Si e sussurra ao nosso coração palavras de amor”.

Com essas palavras, o Papa Francisco começa sua mensagem para a Quaresma de 2024! De fato, a Quaresma é um tempo de muita graça, portanto há graças abundantes reservadas para nós por causa do maior acontecimento fruto desse quarentas dias: a Páscoa do Senhor.

Entendamos, como o Papa Francisco nos propõe, o que é a Quaresma e como vivê-la de forma diferente, acolhendo a graça que o Senhor nos concede gratuitamente, principalmente o amor!

Significado da Quaresma

A palavra Quaresma significa quarenta, e nos remete aos quarenta anos que o povo de Israel levou para atravessar o deserto e ser livre da escravidão do Egito. Nesse tempo, Deus suscitou Moisés como guia para conduzir o povo à terra prometida.

Os quarenta anos foram um tempo de muita prova, dificuldade, morte, fome, mas também de uma forte experiência de Deus, de escuta de sua voz, que fez o povo reconhecer o poder e a escolha de Deus por suas vidas.

Nessa primeira Quaresma vivida pelo povo de Israel, o povo de Deus fez um caminho de salvação e libertação até o lugar preparado por Deus. Foi nesse tempo também que o Senhor fez aliança com seu povo e os presenteou com as tábuas da lei, os dez mandamentos.

Após muitas gerações, vem o Filho de Deus, o novo Moisés, como libertador de todo gênero humano, o salvador verdadeiro que abre não o mar vermelho, mas as portas do céu para que todos passemos a pé enxuto, redimidos, graças à sua Páscoa.

A Quaresma é um tempo litúrgico

A Quaresma dos cristãos então tem um novo significado; é o tempo litúrgico que nos educa para um constante caminho de conversão, e que a Igreja elegeu para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É o tempo em que reconhecemos a grandeza da salvação nos dada por Cristo através de sua paixão, morte e ressurreição.

A Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo desse tempo litúrgico, principalmente na liturgia do domingo, nos esforçamos para recuperar o sentido de verdadeiros filhos e a nossa amizade com Deus.

A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência; é um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual e de preparação para o mistério pascal. É também o momento de reconciliação profunda com Deus através do sacramento da reconciliação.

Toda essa proposta tem um único fim: voltarmos para Cristo e consequentemente para o Pai, ou seja, resgatar a origem e o fim de nossa vida: a comunhão com Deus, a santidade e o amor puro. Para tanto, praticamos o que a Igreja nos ensina a fim de chegarmos ao céu.

Práticas quaresmais!

Desde a Quarta-Feira de Cinzas a Igreja nos fala sobre as práticas quaresmais. Não como uma imposição, nem uma prática vazia, mas um meio de renovarmos nosso amor e nosso seguimento a Cristo como verdadeiros cristãos. Veja algumas práticas indispensáveis:

  • Oração – ela é o passo inicial que revela nossas intenções para vivermos um boa Quaresma e nos ajuda a perseverar nos propósitos seguintes.
  • Leitura da Palavra de Deus – a meditação da Palavra é fundamental, principalmente na liturgia da Missa porque nos conduzirá até a Páscoa do Senhor.
  • Jejum – na Quaresma, o jejum acontece especialmente às sextas-feiras, mas pode se estender durante os quarenta dias. O importante é ver as condições do corpo, perseverar até o Tríduo Pascal e fazer em segredo.
  • Esmola – a esmola acontece de diversas maneiras, mas não pode ser negligenciada, afinal o outro é objeto da bondade divina e nós somos os instrumentos dessa bondade.
  • A oração da Via Sacra – a Quaresma é o tempo privilegiado para rezar essa oração tão forte. Se rezada em estado de graça, ela concede frutos de indulgência às almas. Há outras orações propícias para esse tempo como o Terço das dores de Cristo também.
  • Confissão – durante a Quaresma, realize um bom exame de consciência e faça uma confissão sincera de seus pecados. A Igreja nos pede que, pelo menos em atenção à páscoa do Senhor, busquemos a confissão.
  • Exercício de mortificação – a mortificação ou a penitência é um instrumento quaresmal que nos ajuda a refletir sobre como coisas ou pessoas ocupam o lugar de Deus em nossa vida. Por isso, procure tirar o que te custa muito, ou não fará sentido.

Uma passagem até à terra prometida!

Talvez nenhuma informação dada sobre a Quaresma até agora seja novidade! Mas ela continua sendo útil para realizar o caminho, assim como o tempo litúrgico que acontece todo ano. No entanto, não é o tempo nem a pedagogia da Igreja que fazem a diferença!

Para viver uma Quaresma diferente, é preciso rever as intenções do coração e o estilo de vida, como nos diz o Papa Francisco: “Na minha viagem a Lampedusa, à globalização da indiferença contrapus duas perguntas, que se tornam cada vez mais atuais: “Onde estás?” (Gn 3,9) e “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9).

Para isso, é necessário ir ao deserto, procurar a voz de Deus para responder a essas perguntas fundamentais: onde está meu coração e onde está meu irmão, e depois deixar-se conduzir por Deus em um movimento de amor que nos leva ao mesmo tempo para Ele e para o outro.

Esse movimento de amor de Deus nos faz enxergar quem somos, para que nascemos e nosso destino final, além de nos despertar o desejo de eternidade, a consciência de que o céu começa aqui e agora, dentro de nós!

Portanto, o primeiro passo para viver uma Quaresma diferente é perguntar a si mesmo: onde está Deus, e logo após ir ao encontro Dele.

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