A ESPIRITUALIDADE DO CARMELO DESCALÇO

Carmelo significa graça e fertilidade. A Bíblia o descreve como uma torrente – a fonte de Elias – e uma vinha fertilíssima… A beleza da sua paisagem serviu a Salomão de inspiração para expressar a beleza da esposa do Cântico dos Cânticos: “Tua cabeça sobre ti é tão linda como o Carmelo e teus cabelos como a púrpura” (Cânt. 7.5).

A reforma introduzida por Teresa e João da Cruz quer ser uma superior e quanto delicada fusão entre o ideal contemplativo, próprio dos primeiros eremitas do Monte Carmelo, e o ideal apostólico que animou profundamente os dois Santos Reformadores. Esta admirável síntese espiritual pode ser esquematizada nos seguintes binômios:

  • Intensa busca de Deus, que busca o homem, e grande atenção ao homem, sedento de Deus.

  • Comunhão com Deus, no seguimento do Cristo, e comunhão com a Igreja, do Cristo seguidora.

  • Repouso do ânimo na prática da oração e esforço ascético de purificação.

  • Quietude em Deus e inquietude pela salvação do mundo.

  • Gosto pelas coisas espirituais e sentido do concreto.

  • Solidão, silêncio, retiro e zelo pelas almas, doutrina universal, impulso missionário.

A espiritualidade do Carmelo se embasa sobre a doutrina de Teresa de Jesus e de João da Cruz, proclamados Doutores da Igreja, e é unanimemente reconhecida como o suporte fundamental da teologia ascética e mística. Esta doutrina, que toma o nome de Escola Teresiana, foi sucessivamente enriquecida pela experiência e pelos escritos de outras figuras carmelitanas, como Teresa do Menino Jesus (desde 1997 Doutora da Igreja), Elisabete da Trindade e Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). Característico da espiritualidade carmelitana é o acentuado cristocentrismo. No coração da vida espiritual resplende a figura de Cristo, que a alma busca por meio das virtudes teologais (fé, esperança e amor) e ascéticas (humildade, caridade e desapego), tomando o caminho da oração amorosa.

Desta espiritualidade profundamente mística e corajosamente ascética floresce, desde o século XVII, o ideal missionário. Basta pensar que a primeira Congregação de Propaganda Fidei (1600) foi em grande parte obra dos Carmelitas Descalços, e teve a notável influência do grande missionário espanhol Fr. Tomás de Jesus. Os primeiros missionários italianos estiveram na Pérsia (atual Irã e Iraque – 1604) e em seguida fundaram em Malta, nas Índias, em Moçambique e Madagascar, na China e no Extremo Oriente.