Livro: Diário e Cartas

  1. “Jesus não quis que eu nascesse como Ele, pobre. E nasci em meio às riquezas, mimada por todos.” (Diário e Cartas, 2)
  2. “[…] eu, na missa, quando chegava a comunhão, ardia de desejos de receber Nosso Senhor.” (Diário e cartas, 3)
  3. “Essa é a Virgem que jamais deixou de consolidar-me e de ouvir-me.” (Diário e cartas, 5)
  4. “Todos os dias Lucho me convidava para rezar o rosário, e fizemos juntos a promessa de rezá-lo toda a vida, a qual cumpri até agora. […] Nosso Senhor, a partir daí, se pode dizer, me tomou pela mão com a Ssma. Virgem.” (Diário e cartas, 5)
  5. “Porém Jesus, desde esse primeiro abraço, não me soltou e me tomou para si.”(Diário e cartas, 6)
  6. “Minha devoção à Virgem era muito grande. Um dia, eu – que sofria muito por uma coisa- contei-a à Virgem e roguei pela conversão de um pecador. Então ela me respondeu. Desde então, a Virgem, quando a chamo, me fala.” (Diário e cartas, 7)
  7. “[…] Meus olhos cheios de lágrimas se fixaram em um quadro do Sagrado Coração e senti uma voz muito doce que me dizia: “Como Juanita, eu estou sozinho no altar, por teu amor, e tu não aguentas um momento?” Desde então Jesus me fala. E eu passava horas inteiras conversando com Ele. Assim me agradava estar só. Foi me ensinando como devia sofrer e não me queixar…da união íntima com Ele. Então disse que me queria para Ele. Que queria que fosse carmelita.”(Diário e cartas, 7)
  8. “Que teria sido de mim sem o auxílio de Jesus? Oh, Jesus dulcíssimo, eu te amo!” (Diário e cartas, 8)
  9. “[…]Jesus tomou o comando de minha barquinha e a retirou do encontro das outras barcas. Manteve-me solitária com Ele. Por isso, meu coração, conhecendo este Capitão, mordeu o anzol do amor, e aqui me tem cativa nele. Oh! Quanto amo esta prisão e este Rei Poderoso que me tem cativa, este Capitão que meio às vagas do oceano não permitiu que naufragasse.”(Diário e cartas, 10)
  10. “Jesus me alimenta cotidianamente com sua Carne adorável e, junto com esse manjar, escuto uma voz doce e suave como os ecos harmoniosos do anjos do céu. Essa é a voz que me guia, que solta as velas do barco de minha alma para que não sucumba, e para que não afunde.” (Diário e cartas, 10)
  11. “Sempre sinto essa voz querida, que é a do meu Amado, a voz de Jesus no fundo de minha alma; em minha aflições, em minhas tentações, Ele é meu Consolador, Ele é meu capitão.” (Diário e cartas,10)
  12. “Conduz-me sempre, Jesus meu, pelo caminho da Cruz. E levantará voo minha alma, até onde se encontra o ar que vivifica e a quietude.” (Diário e cartas, 10)
  13. “[…] eu devo seguir Jesus ao fim do mundo se Ele o quer. N’Ele encontro tudo. Só Ele ocupa meu pensamento. E tudo o mais, fora d’Ele, é sombra, aflição e vaidade.” (Diário e cartas, 11)
  14. “Por Ele deixarei tudo para ir me ocultar atrás das grades do Carmelo, se é a Sua vontade e, viver só para Ele. Que felicidade, que prazer! É o Céu na Terra.” (Diário e cartas, 11)
  15. “Porém, tu, Jesus, és meu Amigo e, como tal, me proporcionas consolo.” (Diário e cartas, 11)
  16. “Jesus meu, não te separes de mim.” (Diário e cartas, 14)
  17. “A Ti, Jesus meu, ofereço este sofrimento; pois quero sofrer para parecer-me contigo, Jesus, amor meu.” (Diário e cartas, 14)
  18. “Agrada-me o sofrimento por duas razões: a primeira, porque Jesus sempre preferiu o sofrimento, desde o seu nascimento até  morrer na Cruz. Logo, há de ser algo muito grande para que o Todo-poderoso busque em tudo o sofrimento. Segundo: agrada-me porque no crisol da dor se lavram as almas. E porque Jesus, para as almas que mais quer, envia este presente que tanto agradou a Ele.” (Diário e cartas, 15)
  19. “Meu espelho há de ser Maria. Como sou sua filha, devo parecer-me com Ela e assim serei semelhante a Jesus.” (Diário e cartas, 15)
  20. “Não hei de amar senão a Jesus. Logo, meu coração há de ter o selo do amor de Deus. Meus olhos devem fixar-se em Jesus crucificado. Meus ouvidos hão de ouvir constantemente a voz do Divino Crucificado.” (Diário e cartas, 15)
  21. “Minha língua há de expressar-lhe meu amor. Meu pé há de encaminhar-se ao Calvário. Por isso, há de ser meu andar lento e recolhido. Minhas mãos devem estreitar o Crucifixo, quer dizer, aquela imagem divina que há de imprimir-se em meu coração.” (Diário e cartas, 15)
  22. “Oh, sou feliz, pois posso dizer verdadeiramente que o único amor de meu coração foi Ele.” (Diário e cartas, 15)
  23. “Meu pensamento não se ocupa senão d’Ele. É meu ideal infinito. Suspiro pelo dia de ir ao Carmelo para não ocupar-me senão d’Ele, para confundi-me n’Ele e para não viver senão a vida d’Ele: amar e sofrer para salvar as almas.”(Diário e cartas, 16)
  24. “Oh, nunca tenho necessidade de nada, porque em Jesus encontro tudo que busco! Ele jamais me abandona. Jamais diminui seu amor. É tão puro! É tão belo! É a própria bondade.” (Diário e cartas, 16)
  25. “Todos os sacrifícios que façamos são poucos em comparação com o valor de uma alma. Deus entregou sua vida por elas, e nós quanto descuidamos de sua salvação! Eu, como prometida, tenho de ter sede de almas, oferecer a meu Noivo o sangue que por cada uma delas derramou. E qual é o meio de ganhar almas? A oração, a mortificação e o sofrimento.” (Diário e cartas, 16)
  26. “Ele vem com uma Cruz, e sobre ela está escrita somente uma palavra que comove meu coração até sua mais íntimas fibras: ‘Amor’.” (Diário e cartas, 16)
  27. “Amemos o divino Menino que sofre tanto sem encontrar consolo nas criaturas. Que Ele encontre em nossas almas um refúgio, um asilo onde guardar-se em meio ao ódio de seus inimigos e um jardim de delícias que lhe faça olvidar o esquecimento de seus amigos.” (Diário e cartas, 16)
  28. “Apoiemo-nos na Cruz. Ela é imutável. Nem os séculos nem as tempestades a quebraram. Spes única.” (Diário e cartas, 18)
  29. “Sim, Maria, és a Mãe do universo inteiro. Teu coração está cheio de doçura. A teus pés se prostram com a mesma confiança o sacerdote e a virgem, para achar entre teus braços o Amor de tuas entranhas. O rico e pobre, para encontrar em teu coração seu céu. O aflito e o venturoso, para encontrar em tuas mãos doces carícias. E por fim o pecador, como eu, encontra em Ti a mãe protetora que sob os pés imaculados tem esmagada a cabeça do dragão; enquanto em teus olhos descobre a misericórdia, o perdão e o farol luminoso para cair nas águas lamacentas do pecado.” (Diário e cartas, 19)
  30. “Não é o Céu na Terra viver com Deus? Viver em unidade de pensamentos, em unidade de sentimentos, de ações, e assim o Pai, ao olhar-me, encontrará a imagem de seu Filho. E o Espírito Santo, ao ver residir ao Pai e o Filho, me fará sua esposa e as Três Pessoas virão morar em mim.” (Diário e cartas, 20)
  31. “Desde hoje, não só te ofereço minha vida, mas também a minha morte como te aprouver dá-la a mim. Eu a receberei com gosto, seja no abandono do Calvário, seja no paraíso de Nazaré. Ademais, se queres, dá-me sofrimentos, cruz, humilhações. Que seja pisoteada para castigar meu orgulho e o deles. Como Tu queiras, Jesus meu. Sou tua, faz de mim segundo tua santa vontade.” (Diário e cartas, 21)
  32. “Uma alma para salvá-la; uma morte para temê-la; uma vida para santificá-la. Silêncio. Júbilo. Sinto-me cheia d’Ele. Amo-o.” (Diário e cartas, 21)
  33. “Ascensão do Senhor ao céu de minha alma. Farei todas as minhas coisas em união com Ele, por Ele e para Ele e o consolarei. Quero ser crucificada. E Ele deixou´me seus cravos.” (Diário e cartas, 22)
  34. “Quanto mais nos unimos ao Criador, mais nos isolamos das criaturas. Jesus meu, Esposo de minha alma, te amo. Sou toda tua. Sê Tu todo meu.” (Diário e cartas, 22)
  35. “Meu Jesus, Esposo de minha alma, ofereço-me a Ti. Faze de mim o que queres.” (Diário e cartas, 23)
  36. “Sou aquela que sou diante de Deus. Que importam as criaturas?” (Diário e cartas, 25)
  37. “Irei propor-me abater até os últimos germes do amor-próprio. Não sei sobre o que se pode basear, pois sou um nada criminoso. Gosto que as criaturas me estimem, porém de que me servirá se Deus não me estima?” (Diário e cartas, 27)
  38. “[…] meditei em Deus e, quando penso n’Ele, desapareço no amor. Vejo Sua grandeza infinita e minha extrema miséria e vejo o que é o pecado e o grande amor de Deus.” (Diário e cartas, 27)
  39. “Assim  como as aves, como o condor, embora tenham asas e penas pesadas, se elevam as grandes alturas mesmo que chova etc., assim a alma estende suas asas e se eleva. E essas asas são o amor de Deus.” (Diário e cartas, 27)
  40. “Jesus querido, quando estarei ao Teu lado? Amo-te! desejo unir-me a Ti eternamente!”(Diário e cartas, 27)
  41. “Meu Jesus uno-me a Ti. Faça-se como queres e não a minha vontade.” (Diário e cartas, 27)
  42. “Oh, como me considero grande depois de ter visto minha origem -um Deus!- e meu fim: um Deus Infinito! Porém, há um ponto entre a origem e o fim, e este é a vida. Que farei, pois, enquanto viver? Servir, honrar, amar, glorificar meu Criador. E como? Aqui está a minha vontade. Se sou generosa, dar-me-ei toda a meu Jesus, que deu tudo por mim. As criaturas e tudo quanto possuo, Deus me deu. Logo devo usar delas como se não me pertencessem. Em tudo, pois, devo cumprir a vontade de Deus meu Criador, de meu Salvador e de meu Tudo. Pertenço-lhe.” (Diário e cartas, 29)
  43. “Que são todas as coisas senão vaidade? Tudo passa, tudo morre. Logo, para me apegar as coisas transitórias, que não me levam a Deus, que é o meu fim?” (Diário e cartas, 29)
  44. “Compreendi que o que mais me afasta  de Deus é o meu orgulho. A partir de hoje quero e me proponho ser humilde. Sem a humildade as demais virtudes são hipocrisia. Sem ela, as graças recebidas de Deus são dano e ruína. A humildade nos proporciona a semelhança com Cristo, a paz da alma, a santidade e a união íntima com Deus.” (Diário e cartas, 29)
  45. “Como são diferentes as coisas olhadas sob a luz da morte. Aparecem em toda a sua realidade, e então a alma exclama: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Tudo é nada. Tudo o que o mundo estima não vale nada. Jesus Cristo o despreza.” (Diário e cartas, 29)
  46. “Meu coração, Jesus, só há de amar a Ti.” (Diário e cartas, 29)
  47. “Quero, a partir de hoje, ser sempre a última em tudo, ocupar o último lugar, servir os demais, sacrificar-me sempre e em tudo para unir-me mais Àquele que se fez servo sendo Deus, porque nos amava.” (Diário e cartas, 30)
  48. “Farei todas as coisas o melhor que possa para agradar, não às criaturas, mas a Deus. Amarei as criaturas por Deus, em Deus e para Deus.” (Diário e cartas, 30)
  49. “Creio que no amor está a santidade. Quero ser santa. Logo, entregar-me-ei ao amor, já que este purifica, serve para expiar. Aquele que ama não tem outra vontade senão a do amado; logo, quero fazer a vontade de Jesus. Aquele que ama se sacrifica. Quero imolar-me constantemente para parecer-me com Aquele que sofre por mim e me ama. O amor obedece sem réplica. É fiel. Não vacila. O amor é o laço de união entre duas almas. Pelo amor me fundirei em Jesus.” (Diário e cartas, 31)
  50. “Gosto das carmelitas, porque são tão simples, tão alegres, e Jesus deve ter sido assim. Porém, vi também que a vida da carmelita consiste em sofrer, amar e rezar.” (Diário e cartas, 31)
  51. “Jesus querido, quero ser pobre, humilde, obediente, pura, como minha Mãe e como Tu, Jesus. Faz de tua casinha um palácio, um céu. Desejo viver adorando-te como os anjos, sentir meu nada em tua presença. Sou tão imperfeita… Quero ser pobre como Tu e, já que não posso sê-lo, quero não amar em nada as riquezas etc.” (Diário e cartas, 31)
  52. “Meu Jesus, Tu és minha vida. Sem Ti morro; sem Ti desfaleço.” (Diário e cartas, 32)
  53. “Vem, amor. Vem logo e te darei meu coração, minha alma e tudo que possuo. Minha Mãe, prepara meu coração para receber meu Jesus.” (Diário e cartas, 33)
  54. “Quero que minhas ações, meus desejos, meus pensamentos levem este selo: ‘Sou de Jesus’.” (Diário e cartas, 34)
  55. “Jesus me pede que seja santa, que faça com perfeição meu dever. Que o meu dever é a cruz, e na cruz está Jesus. Quero ser crucificada.” (Diário e cartas, 34)
  56. “Não me importa não sentir, estar insensível como uma pedra, porque sei, meu Jesus, que Tu sabes que eu te amo. Dá-me a cruz. Quero sofrer por Ti, mas ensina-me a sofrer amando, com alegria, com humildade.” (Diário e cartas, 34)
  57. “Quero passar minha vida sofrendo para reparar meus pecados e os dos pecadores. Para que se santifiquem os sacerdotes. Não quero ser feliz, mas que Tu sejas feliz. Quero ser soldado para que disponhas de minha vontade e desejos. Quero ser corajosa, forte, generosa em Te servir, Senhor, Esposo de minha alma.” (Diário e cartas, 35)
  58. “Atiro-me a esse imenso oceano de amor de Teu Coração, para perdoar-me n’Ele, como uma gota de água no oceano, e precipitar minha pequenez na grandeza de Tua misericórdia.” (Diário e cartas, 35)
  59. “A  vida de Carmelita não é outra coisa: amar, chegar à união mais perfeita com Deus, e imolar-se e sacrificar-se em tudo, já que o sacrifício é a oblação do amor.” (Diário e cartas, 35)
  60. “Minha alma é um céu, pois nela está Jesus.” (Diário e cartas, 36)
  61. “Mostrou-me sua grandeza e meu nada e me disse que havia me escolhido para vítima. Que subisse com Ele ao calvário. Que empreenderíamos juntos a conquista das almas: Ele, Capitão, e eu soldado. Nossa arma, a Cruz.  A divisa, o amor. Disse-me que sofresse com alegria, com amor. Que todos os dias tirasse um espinho de seu Coração.” (Diário e cartas, 37)
  62. “Mãe, eu quisera dizer-te muitas coisas, porém, ah! é tão pobre minha linguagem que, trêmula, só sei te dizer que eu te amo. Minha Mãe,quisera a teus pés virginais cantar teus louvores; porém, minha voz é tão débil que só formulo uma prece.” (Diário e cartas, 39)
  63. “Queres cercar-me só de teu amor para que não me apegue a nenhuma criatura. Isso me serve para ver que o amor na terra não existe senão em Deus; pois se as almas presenteadas e escolhidas, santas, esquecem e são indiferentes, como serão as outras pessoas? Só Tu, Jesus, és o único capaz de enamorar-me.” (Diário e cartas, 40)
  64. “É preciso fazer morrer a si mesma para viver escondida em Cristo.” (Diário e cartas, 46)
  65. “É só esse o meu desejo: quero sofrer, e mesmo quando sofro tenho ânsias de sofrer mais para unir-me a Nosso Senhor.” (Diário e cartas, 46)
  66. “Minha alma deseja a Cruz porque nela está Jesus.” (Diário e cartas, 48)
  67. “Deixo-me guiar porque sou cega e Ele é minha luz. Sou soldado que sigo meu Capitão. Onde quer que Ele estiver, estará seu soldado. Não sou nada. Ele é tudo. Oh, como a alma que tem sua esperança posta n’Ele não precisa temer, porque todos os obstáculos, as dificuldades, Ele as vence!” (Diário e cartas, 48)
  68. “Permaneço a seus pés. Sinto-me muitas vezes desfalecida de amor. Aniquilo-me em sua presença ao ver-me tão miserável apesar de me encher de favores. Tudo o que faço é por seu amor. Vivo em uma contínua presença de Deus.” (Diário e cartas, 50)
  69. “[…] Também falou quão necessário era viver constantemente contemplando a Deus, sobretudo a Jesus Cristo, pois a Humanidade é a porta que é preciso transpor para entrar na Divindade. Que na oração penetraríamos nos sentimentos e afetos desse Coração divino para imitá-lo e compenetrar-nos deles.” (Diário e cartas, 53)
  70. “Sinto de tal maneira o amor divino, que há momentos em que creio que não vou resistir. Quero ser hóstia pura, sacrificar-me em tudo continuamente pelos sacerdotes e pecadores.” (Diário e cartas, 54)
  71. “Nosso Senhor, na oração, me manifestou como Ele havia sido triturado por nós e convertido em hóstia. Disse-me que para ser hóstia era necessário fazer morrer a si mesma. Uma hóstia -uma carmelita- deve crucificar seu pensamento encravado n’Ele. Os desejos, dirigidos à glória de Deus, à santificação da alma. Uma hóstia não vê, não ouve, não se comunica no exteriormente mas no interior.” (Diário e cartas, 55)
  72. “Perder-me em Deus. Contemplá-lo sempre sem perdê-lo de vista jamais. Para isso, viver em silêncio, harmonia, unidade n’Ele. E para viver n’Ele é necessário simplificar-se, ter um só pensamento e uma atividade: louvar.” (Diário e cartas, 56)
  73. “Sou de Deus, já que Ele me criou. Devo viver só para Deus e em Deus. Ao trazer-me ao claustro, Deus me atraiu a esta vida n’Ele, já que o claustro é a ante-sala do céu e neste só Deus existe para a alma. Uma alma que não vive em Deus no claustro o profana. O claustro está todo penetrado de Deus. É a morada d’Ele. As almas religiosas são os anjos que constantemente o adoram.” (Diário e cartas, 57)
  74. “Uma carmelita deve viver sempre em Deus pela fé, esperança e caridade. A vida de fé consiste justamente em apreciar e julgar as coisas e criaturas segundo o juízo que delas tem Deus. Por exemplo: uma humilhação com espírito de fé é recebida com alegria, pois por ela mais se assemelha a alma a Jesus humilhado. A esperança consiste em uma plena desconfiança de nós mesmos, confiando na graça de Jesus. Esquecer nossos pecados quando o inimigo se serve deles para fazer-nos desconfiar da misericórdia de Deus-Amor. A caridade consiste em apreciar a Deus e preferi-lo a todas as coisas e criaturas.” (Diário e cartas, 57)
  75. “Do espírito de fé e caridade se desprende o espírito de sacrifício, que consiste na contínua renúncia às criaturas, às coisas e a nossa própria concupiscência. Uma alma sacrificada da manhã até a noite se vencerá e lutará contra suas paixões. A união com Deus ou a santidade está em viver em espírito de fé e caridade. A fé deve ser meu guia para ir a Deus.” (Diário e cartas, 57)
  76. “Devo tratar de esquecer os favores que Deus me faz, fixando minha atenção nos amor que demonstra na Cruz e no Sacrário.” (Diário e cartas, 57)
  77. “A perfeição da vida está na aproximação de  Deus. O céu é a posse de Deus. No céu se contempla a Deus, se lhe adora, se lhe ama. Mas, para chegar ao céu, é preciso desligar-se da terra. E o que é a vida da carmelita, senão contemplar, adorar e amar a Deus incessantemente? E ela, ansiosa por esse céu, se afasta do mundo e trata de desligar-se, no possível, de todo terreno.” (Diário e cartas, 58)
  78. “A carmelita sobe ao Tabor do Carmelo e se cobre com as vestes da penitência que a assemelham mais a Jesus. E, como Ele, ela quer transformar-se, transfigurar-se para ser convertida em Deus.” (Diário e cartas, 58)
  79. “Acontece-me que vejo que tudo o que há no mundo é vaidade, que a felicidade que podemos encontrar na terra está em servir a Deus.” (Diário e cartas, carta 12)
  80. “Fico encantada em rezar. Quisera que a minha vida fosse uma contínua oração porque é a conversa que temos com Deus.” (Diário e cartas, carta 12)
  81. “Consagremo-nos a Ele. Entreguemos-lhe nosso coração, nossa liberdade e tudo o que temos. O Senhor gosta muito de morar em nossa alma.” (Diário e cartas, carta 12)
  82. “Não deixemos escapar nenhum ato que possa mortificar-nos.” (Diário e cartas, carta 13)
  83. “Um cristão deve ser outro Cristo; e nós com muito mais razão.” (Diário e cartas, carta 13)
  84. “Falemos com Nosso Senhor na comunhão. Não só na ação de graças, mas em todas as horas devemos estar com Ele.” (Diário e cartas, carta 13)
  85. “Considero que, para pertencer-lhe, é necessário que sejam d’Ele nossos pensamentos, nossas obras, por meio da reta intenção.” (Diário e cartas, carta 16)
  86. “Sei que enquanto não modelar meu amor e meus gostos com os do Coração de meu Mestre não poderei chegar à união com Deus em minha alma, pois me distrairei nas vaidades deste mundo miserável.” (Diário e cartas, carta 16)
  87. “Tenho visto que a felicidade no mundo não existe, as relações com  ele deixam-me sempre um vazio que só Nosso Senhor preenche por completo, quando estou com Ele na igreja.” (Diário e cartas, carta 20)
  88. “Tudo que vejo, Rvda. Madre, me leva a Deus. O mar em sua imensidão me faz pensar em Deus, em sua infinita grandeza. Sinto então sede do infinito.” (Diário e cartas, carta 20)
  89. “Oh, como Jesus é bom se rebaixando a escolher-me, apesar de ser tão miserável!” (Diário e cartas, carta 25)
  90. “Vejo que Deus quer provar-me, porque a cada instante me envia sofrimento. Mas ofereço todos, porque compreendo que por eles me assemelharei a Jesus Crucificado, e é este o único ideal.” (Diário e cartas, carta 27)
  91. “O que procuro agora é adquirir esse espírito de recolhimento que me faça viver com Jesus, abstraída do  que me passa ao redor. Minha alma há de ser uma fortaleza. Nela encontrarei meu Divino Hóspede e ali estarei só com Ele…porque ali ninguém poderá habitar.” (Diário e cartas, carta 30)
  92. “E me pergunto porque o Senhor me protege e guarda para Si quando sou tão miserável! E n’Ele mesmo encontro a resposta: Ele tem um Coração de Deus, cheio, portanto, de amor infinito, e esse fogo de amor abrasa quando encontra perto de si, contanto que nos deixemos consumir.” (Diário e cartas, carta 37)
  93. “Diz-me, existe algo maior na terra que o Deus eterno, imutável e todo-poderoso buscar na terra uma alma para fazê-la sua esposa, buscar um coração humano para uni-lo ao seu coração divino e fazer no amor a fusão mais completa? Mais ainda , que Deus venha à terra e viva na Eucaristia, morrendo de amor por uma alma? Imagine o que é o maior amor na terra em comparação ao de um Deus infinito!” (Diário e cartas, carta 40)
  94. “O amor é a fusão de duas almas em uma, para aperfeiçoar-se mutuamente. Como se poderá unir uma alma à outra mais perfeitamente do que Deus se une a nossa? A alma unida a Deus se diviniza de tal maneira, que chega a desejar e trabalhar conforme a Jesus Cristo.” (Diário e cartas, carta 40)
  95. “Vivo com ele, e apesar de estar nos passeios nós conversamos sem que nada nos atrapalhe. Se tu o conhecesses, o amarias bastante. Se ficasses com ele na oração, poderias saber o que é o céu na terra.” (Diário e cartas, carta 40)
  96. “O objetivo da carmelita me entusiasma; orar pelos pecadores, passar a vida inteira sacrificando-se, sem jamais ver os frutos da oração e do sacrifício. Unir-se a Deus, para que assim circule nela o sangue redentor, e comunicá-lo à Igreja, a seus membros para que assim se santifiquem.” (Diário e cartas, carta 40)
  97. “Sim, no Carmelo se principia o que faremos por uma eternidade. Amar e cantar as maravilhas do Senhor. Se esta é a ocupação que teremos no céu, não será acaso a mais perfeita?” (Diário e cartas, carta 40)
  98. “Procuremos viver nessa oração contínua em que a Virgem vivia, Deus a cada instante se dá com amor infinito. Cabe a nós, criaturas miseráveis, dar-nos a Ele como todo o nosso ser, de modo que todas as nossas obras sejam dirigidas a Ele, com toda a intensidade do amor de que somos capazes!” (Diário e cartas, carta 41)
  99. “É verdade que não o vemos com os sentidos, mas o apalpamos a cada instante em suas obras. Os sentidos incessantemente dentro de nosso coração, de modo que não há separação, mas fusão de nossas almas pequeníssimas com um Deus infinito.” (Diário e cartas, carta 44)
  100. “Sim. Reze, Madre querida, para que me perca no Coração de meu adorado Jesus, para que não tenha outra vida senão Ele e para isso, sofrer. Minha Rvda. Madre, peça-lhe que me dê sua cruz, ainda que seja indigna de viver na cruz onde meu Jesus viveu para amar-me. Creia-me, meu único ideal aqui na terra é ser carmelita para sofrer e amar. Essa foi a vida de Cristo na terra e continua a ser no SSmo. Sacramento.” (Diário e cartas, carta 44)
  101. “Tudo que faço lhe ofereço por amor, pois este é a força que ajuda a realizar aquelas coisas pelas quais se sente mais repugnância.” (Diário e cartas, carta 45)
  102. “O que me encanta é que a carmelita se sacrifica em silêncio, sem ver os frutos de sua oração e de seu sacrifício.” (Diário e cartas, carta 45)
  103. “Sinto amor à solidão, ao silêncio, ao afastamento de tudo no mundo e, sobretudo, à oração.” (Diário e cartas, carta 45)
  104. “Que sorte imensa a nossa ser amigas como somos, amando-nos em Jesus, por Jesus e para Jesus!” (Diário e cartas, carta 47)
  105. “Os salmos são de uma formosura incomparável, como inspirados pelo próprio Deus.  A alma que verdadeiramente se deixa penetrar por eles ficará muito perto do céu, pois cantar o ofício é fazer o que fazem os anjos no céu.” (Diário e cartas, carta 47)
  106. “A carmelita tem sua cela à parte. Ali é onde penetra como em um templo para sacrificar-se. Nela há uma cruz sem Cristo. É essa a cruz onde ela deve morrer; nesse templo só ela penetra. Está reservada só para Deus e a alma. Ali vive em um completo afastamento das criaturas e ocupada só do Senhor.” (Diário e cartas, carta 51)
  107. “Que posso eu sem Deus? Ele a cada instante me sustém para que viva. Se faço coisa boa é porque Deus me dá sua força para fazê-la. Se correspondo a sua graça é porque Ele me dá a graça maior de Lhe corresponder. Todos esses argumentos são muito úteis para ver nosso nada.” (Diário e cartas, carta 51)
  108. “Agora diz-me, o que Ele viu em  nós, em nossas almas, para que assim nos ame até querer que sejamos amigas, esposas de seu divino Coração? Nada, miséria e ingratidão. Se correspondemos e fazemos algo bom é porque Ele nos dá a sua graça.” (Diário e cartas, carta 51)
  109. “Como não morremos de amor por Deus que nos ama, sendo Ele Todo-poderoso e nós toda miséria?” (Diário e cartas, carta 51)
  110. “Ama meu Jesus. Sê sua amiga. Consola-O. Não lhe negues nada. Dá-Lhe tudo o que podes. Imita-O em tudo. Sobretudo vive com Ele no íntimo de tua alma. Adora-O e ama-O ali. Faz tua oração todos os dias e também teu exame. Reza por mim para que se cumpra a vontade de Deus.” (Diário e cartas, carta 51)
  111. “Minha oração consiste em quase sempre em uma íntima conversa com Nosso Senhor.” (Diário e cartas, carta 56)
  112. “Sei perfeitamente que a cruz é o melhor e me considero indigna de sofrer, de carregar a cruz como N. Senhor; já que a cruz é dada àqueles que Ele quer…” (Diário e cartas, carta 60)
  113. “Esse amor divino é de uma força irresistível, cada dia mais profundo. Como se quisesse fazer que todos o amem, mas antes que o conheçam!” (Diário e cartas, carta 60)
  114. “Não olhemos para o que fazemos, e sim para o que nos falta fazer para corresponder a seu amor…” (Diário e cartas, carta 51)
  115. “O Carmelo para mim é um Céu.” (Diário e cartas, carta 51)
  116. “Se pudesse dar meu sangue gota a gota, não seria bastante para agradecer a meu Divino Redentor. Abandono-me em seus divinos braços como uma criança nos braços de sua mãe, a quem não tem como pagar. Pode acreditar que não me preocupo com nada, que não sinto nada, porque tenho a Ele. É meu Todo adorado.” (Diário e cartas, carta 62)
  117. “A carmelita é irmã do sacerdote. Ambos oferecem uma hóstia de holocausto pela salvação do mundo. Assim, pois, santifica-se a si mesma para que o sangue do divino Prisioneiro que ela recebe em sua alma, por estar sempre mais unida a Ele, circule pelos demais membros do corpo de Cristo. Em uma palavra, santifica a si mesma para santificar seus irmãos.” (Diário e cartas, carta 63)
  118. “Sim, ser esposa de Cristo é ser crucificada, pois assim como os esposos partilham as alegrias e as tristezas, as riquezas e as pobrezas, assim também a que é esposa do Crucificado, do Obediente até a morte, do que não tem onde descansar a cabeça, não deve ser crucificada pelo mundo, não deve ser obediente até morrer sem vontade, não deve ser pobre até ter apenas a Jesus para reclinar sobre o seu peito sua cabeça? A vida religiosa, minha irmãzinha, não é nada mais que uma vida de sacrifício. A alma se deu a Deus e deve dar-se inteiramente, pois o amor não deixa nada para si; tudo o consome, para que dessas cinzas se levante uma pessoa só: Cristo.” (Diário e cartas, carta 65)
  119. “Temos o céu em nossa alma. E o que se faz no céu? Amar, contemplar a Deus e glorificá-Lo. É o que trataremos de fazer: amá-Lo acima de todos. Quem ama sempre pensa no amado. Pensamos constantemente n’Ele.” (Diário e cartas, carta 65)
  120. “Se somos humilhados, nós o somos por Ele. Se somos louvadas, o somos por Ele. Se servimos, servimos a Ele; e assim em tudo. Desse modo, a alma se simplifica e se une a Ele; sempre pensa e vê a Ele.” (Diário e cartas, carta 65)
  121. “Contemplo a Sstma. Trindade dentro de minha alma como um imenso foco de fogo e luz, no qual, por sua muita intensidade, não posso penetrar nem olhar. Ali vejo Ssma.Virgem, os anjos e santos. E vejo a mim mesma, criatura miserável, confundida e aniquilada diante de sua Divina Majestade, e me uno aos louvores que lhe tributam todos no céu.” (Diário e cartas, carta 66)
  122. “Sinto às vezes tanto amor, que sinto verdadeiramente sem forças; e, contudo, em minhas obras não o mostro.” (Diário e cartas, carta 66)
  123. “Tudo fazer por Deus, nada com o propósito de ser vista pelas criaturas.” (Diário e cartas, carta 68)
  124. “Não peço nada a Deus, mas que se cumpra em mim sua divina vontade. A ela me abandono e digo como minha Mãe Santa Teresa: “Ele tudo sabe e Ele me ama.” Não me preocupo com nada, pois sei que meu Jesus preparará tudo para sua pequena esposa…” (Diário e cartas, carta 72)
  125. “Anseio por ser feliz e tenho procurado a felicidade por toda parte. Tenho sonhado em ser rica, mas tenho visto que os ricos da noite para o dia se tornam pobres. E, mesmo que isso o às vezes não aconteça, se vê que por um lado reinam as riquezas, e por outro reina a pobreza de afeição e de união. Tenho-a buscado na posse do carinho de um jovem atencioso, porém só a ideia de que algum dia poderia não querer-me com o mesmo entusiasmo ou porque poderia morrer, deixando-me só nas lutas da vida, me faz abandonar o pensamento de que me casando serei feliz. Não. Isso não me satisfaz. Para mim não está aí a felicidade. Onde estão? Então compreendi que não nasci para as coisas da terra, mas para as coisas da eternidade. Para que o negar por mais tempo? Só em Deus meu coração tem descansado. Com Ele minha alma se sente plenamente satisfeita e de tal maneira que não desejo outra coisa neste mundo que lhe pertencer por completo.” (Diário e cartas, carta 73)
  126. “Desde criança amei muito a Ssma. Virgem, a quem confiava todos os meu assuntos. Só com Ela me desafogava, e jamais deixava nenhuma tristeza ou alegria sem dizer a ela. Ela correspondeu a esse carinho. Protegia-me e escutava o que lhe pedia sempre. E ela me ensinou a amar N. Senhor.” (Diário e cartas, carta 73)
  127. “A que buscava o amor das criaturas não desejou senão o de Deus.” (Diário e cartas, carta 73)
  128. “Porém, ainda que o coração jorre sangue, é preciso abandonar aqueles seres a quem a alma se acha intimamente ligada para ir morar com o Deus de amor, que sabe recompensar o mais leve sacrifício.” (Diário e cartas, carta 73)
  129. “A Ssma. Virgem será minha advogada. Ela saberá melhor que eu fazer-lhe compreender que a vida de oração e penitência que desejo abraçar encerra para mim todo o ideal de felicidade nesta vida, e a que me assegurará a da eternidade.” (Diário e cartas, carta 73)
  130. “Tudo Ele faz em mim.  A única coisa que faço é amá-lo, e isto tão imperfeitamente que só sua Bondade é capaz de suportar-me. Amo-O e por Ele tudo vou deixar; porém esse tudo é tão pequena coisa, comparado com o tudo do seu amor…”  (Diário e cartas, carta 80)
  131. “A carmelita busca sempre Deus, e onde melhor encontrá-lo senão na cruz, onde o amor encravou? Vou principiar a amar a meu Jesus.” (Diário e cartas, carta 80)
  132. “Amar, sim; porém o Ser imutável, Deus, que tem me amado infinitamente desde a eternidade.” (Diário e cartas, carta 81)
  133. “Em Deus encontro tudo o que nas criaturas não encontro, porque são demasiado pequenas para que possam saciar as aspirações quase infinitas de minha alma.” (Diário e cartas, carta 81)
  134. “Quando se conhece Deus, quando no silêncio da oração ilumina a alma com um raio de sua formosura infinita, quando ilumina o entendimento com sua sabedoria e seu poderio, quando inflama a vontade com sua bondade e misericórdia, se olha tudo da terra com tristeza. E a alma, amarrada pelas exigências de seu corpo, pelas exigências do ambiente social em que vive, se encontra desterrada e suspira com ardentes ímpetos por completar sem cessar esse horizonte infinito, que, à medida que se olha, se alarga sem jamais encontrar limites em Deus.” (Diário e cartas, carta 81)
  135. “Se ficasse no mundo, não teria todo o bem que tu me dizes, porque a virtude é uma planta cuja seiva é a graça de Deus. Sem ela a virtude perece.” (Diário e cartas, carta 81)
  136. “Quem pode me fazer mais feliz do que Deus? Nele tudo encontro.” (Diário e cartas, carta 81)
  137. “Ela (Nossa Senhora) tem sido a confidente íntima desde os mais tenros anos de minha vida. Tem escutado a relação de minhas alegrias e tristezas. Tem confortado meu coração tantas vezes abatido pela dor.” (Diário e cartas, carta 81)
  138. “Fala com Ela como fazes comigo de coração a coração. Quando te sentires só, como eu muitas vezes tenho-me sentido, olha-a e verás que sorrindo te diz: “Tua Mãe jamais te deixa só”. Quando triste e desolado, não tiveres com quem desabafar, corre a sua presença e o olhar de tua Mãe dirá: “Não há dor semelhante a minha dor”. Ela te confortará, pondo em tua alma a gota do consolo que cai de seu dolorido Coração.” (Diário e cartas, carta 81)
  139. “Que somos, senão nada? Que podemos por nós mesmas? Nada. Se Deus não age em nós, não podemos agir. Se não nos dá a vida, não podemos viver. Ele é tudo, nós nada. Mas Ele se abaixa até nós, diz que quer nosso amor. A Ele, Todo-poderoso, de que serve que o amem criaturas tão miseráveis como nós?” (Diário e cartas, carta 82)
  140. “Minha vida será a do Céu. Viverei só para Deus, em Deus e por Deus, sem a interferência de criatura alguma.” (Diário e cartas, carta 82)
  141. “Desde os 7 anos mais ou menos, nasceu em minha alma uma devoção muito grande a minha Mãe, a Ssma. Virgem. Contava-lhe tudo o que me passava, e ela me falava. Sentia sua voz dentro de mim mesma, clara e distintamente. Ela me aconselhava e me dizia o que devia fazer para agradar Nosso Senhor. Acreditava que isto era o mais natural, e jamais ocorreu-me dizer o que a Ssma. Virgem me dizia.” (Diário e cartas, carta 87)
  142. “Não compreendo como Deus se aproxima de mim, miserável pecadora. Ele, que é a própria Santidade. Que bom é Deus! Quanto devemos amar e quão pouco o amamos, porque somos incapazes por nossa corrompida natureza. Anseio por oferecer-lhe algo para corresponder a seu amor infinito, ainda que imperfeitamente. Porém tudo fica em desejos e nada em obras. Mas Ele me conhece e me ama; recebe meus desejos e me cobre com sua misericórdia.” (Diário e cartas, carta 88)
  143. “Que imenso me parece Deus! Que abundância de perfeições infinitas encerra o Ser que é meu todo adorado! Quão tarde te amei! Tenho-o ofendido tanto que me admira Ele suportar um monstro de tamanha ingratidão. Ele nos ama com infinito amor, e nós lhe correspondemos com ofensas a sua Divina Majestade.” (Diário e cartas, carta 89)
  144. “Essa é a vocação da carmelita: ser hóstia pura que continuamente se oferece a Deus pelo mundo pecador.” (Diário e cartas, carta 90)
  145. “Lanço-me e penetro em seu Divino Coração e, esquecida de mim mesma, quando Ele me diz “Segue-me” e eu lhe digo: “Onde Tu quiseres, Senhor.” Confio que Ele me há de crucificar.” (Diário e cartas, carta 90)
  146. “Sinto-me feliz em meio a tanta pobreza, porque tenho Deus, e Ele só me basta.” (Diário e cartas, carta 94)
  147. “A morte dissipa tudo. Só um conhecimento, uma verdade não se obscurecem, porque está baseada no imutável. Só um bem, só um amor não se destrói, porque é eterno e infinito. Tudo passa na vida, menos nossas boas obras.” (Diário e cartas, carta 96)
  148. “Só um Ser permanece sempre o mesmo: Deus. Amemo-lo, porém antes conheçamo-lo. Só Ele vale a pena ser conhecido, porque é infinito.” (Diário e cartas, carta 96)
  149. “Os sacrifícios aos quais me submeto não são sacrifícios, o amor suaviza e alivia tudo. Amo e em amor desejo viver toda a minha vida. Que importa mortificar a carne, fazê-la morrer, se desta morte nasce a vida da alma e união com Deus?” (Diário e cartas, carta 96)
  150. “Não sei como retribuir a N. Senhor tanto amor, tanta bondade para com uma criatura que só merece ser aniquilada.” (Diário e cartas, carta 97)
  151. “Viver com N. Senhor no fundo da tua alma. Aí adora-o e oferece-lhe a cada hora o que vais fazer, tudo por amor. Não lhe neguemos nada. Quem ama verdadeiramente não reserva nada para si.” (Diário e cartas, carta 98)
  152. “Estou começando minha vida de céu, de adoração, de louvor e amor contínuo. Parece-me que já estou na eternidade, porque aqui no Carmelo não se sente o tempo. Estamos mergulhadas no seio do Deus imutável.” (Diário e cartas, carta 101)
  153. “O amor de Deus é infinito e, portanto, incompreensível. Aniquilemo-nos diante de seus inescrutáveis desígnios.” (Diário e cartas, carta 101)
  154. “No céu a ocupação das almas será adorar e amar. Iniciemos, pois, na terra o que faremos por uma eternidade. Considero minha alma um céu onde reside a Ssma. Trindade, a quem não posso olhar nem penetrar, porque a considero um foco imenso, infinito de luz. Bem perto desse foco represento-me a Ssma. Virgem inundada de luz e de amor. Perto da Ssma. Virgem, meu Pai São José, e depois todos os anjos e santos, cada um em seu lugar correspondente. E, mais abaixo, a última, vejo-me como um ponto negro nessa auréola e torrente de luz. Ali vivo contemplando e adorando esse Ser perfeitíssimo.” (Diário e cartas, carta 101)
  155. “Vivamos sempre na presença de Deus, afastando o pensamento das criaturas. Quando tivermos de tratar com as criaturas, vejamos Deus nelas e tratemo-las com deferência, considerando-nos suas escravas, colocando-nos depois delas, sacrificando-nos por elas. Que nossas obras sejam feitas como para serem examinadas por Deus. Assim agiremos com perfeição. Deus é alegria infinita.” (Diário e cartas, Carta 101)
  156. “Como quisera abrir os olhos de tua alma, para que visses e compreendesses a felicidade que a religiosa desfruta! Podes acreditar, sinceramente te digo, que não é terra, mas céu, o que se vive no Carmelo.” (Diário e cartas, Carta 102)
  157. “Ele está sedento do coração de suas criaturas. O próprio Deus é nosso mendigo. Entreguemo-nos a Ele. Não sejamos mesquinhas, porque Deus é todo bondade e generosidade para conosco. No mundo há almas que o amam e o servem. A piedade é a manifestação do nosso amor filial para com Deus. Sê piedosa, tanto para com nosso Senhor como com para teu próximo.” (Diário e cartas, Carta 102)
  158. “Não temas que eu te esqueça. Amei-te demasiado para esquecer-te tão depressa; amo-te muito mais que antes, porque o amor não está só nas palavras, mas nas obras. Agora trabalho, agora me sacrifico por ti para que conheças a vontade de Deus. Que só pertencemos a nosso Dono soberano. Ele é o único capaz de nos saciar. Seu amor é infinito, não tem limites.” (Diário e cartas, Carta 103)
  159. “Oh! Se pudesses, por um momento, ver como meu Jesus me ama! Parece que não existe outra criatura no mundo a quem amar, pois seu amor se manifesta a mim nos mínimos detalhes. Como quisera que o amasse! Quem pudera abrir os olhos de tua alma para que visses sua infinita beleza arrebata, para que compreendesses seu amor infinito que extasia. Um Deus mendigando amor de suas criaturas miseráveis, criminosas.” (Diário e cartas, Cartas 103)
  160. “Quando se ama, tudo é alegria: a cruz não pesa, não se sente o martírio, vive-se mais no céu que na terra. A vida no Carmelo é amar. Esta é nossa ocupação.” (Diário e cartas, Carta 104)
  161. “Porém que o busquem não pelo temor, mas pela confiança ilimitada em seu divino Amor. Quando uma alma se entrega assim, Jesus faz tudo, porque vê que essa alma é miserável e incapaz de todo bem e, como a vê cheia de boa vontade e de desconfiança de si mesma, seu amante coração se comove e dela se carrega. Por tanto, soframos, oremos e amemos.” (Diário e cartas, Carta 104)
  162. “Não compreendo como não as amas, sendo Ele a bondade infinita e a beleza que arrebata. Quando penso que há tão poucas almas que o amam, sinto uma tristeza horrível. Ele, sendo Deus, não necessitando de ninguém visto que reúne tudo em si; Ele, sendo imenso e majestoso, preocupa-se conosco, nos sustenta, nos alimenta, nos cria a cada instante (pois a conservação é criação contínua); não contente com isso se encarnou. Ele espírito perfeitíssimo, fez-se Pão para unir-se conosco. Não é o cúmulo do amor? Contudo, só recebe esquecimento, desprezo, injúrias daqueles que tanto ama.” (Diário e cartas, Carta 105)
  163. “Que felicidade! Como sou feliz em sacrificar tudo por Deus! Tudo isso é nada em comparação com o que Nosso Senhor sacrificou por nós desde o berço até a cruz, até aniquilar-se inteiramente sob a forma de pão. Ele, um Deus, sob as espécies de pão e até a consumação dos séculos. Que grandeza de amor infinito! Amor não conhecido, amor não correspondido pela maioria dos homens.” (Diário e cartas, Carta 107)
  164. “Ele se revela e se mostra cada vez mais à alma que o busca sinceramente e que deseja conhecê-lo para amá-lo. Sim, em minha alma tenho céu, porque Deus está em minha alma, e Deus é o céu.” (Diário e cartas, Carta 107)
  165. “Quando alguém ama, só pode falar do objeto amado. Ainda mais quando o objeto amado reúne em si todas as perfeições possíveis. Que queres, se Jesus Cristo, este louco de amor, me tornou louca?” (Diário e cartas, Cartas 107)
  166. “Como quisera, desde que tive o uso da razão, ter-me aplicado a conhecer este Deus tão bom, este Ser infinitamente belo, o púnico Ser digno de ser conhecido. Ama-o, porque só Ele merece nosso amor. Pensa nele em sua grandeza, em seu amor. Vive nele mais que em ti. Deus está mais em nós que nós mesmos. Deus nos plenifica, nos transpassa.” (Diário e cartas, Carta 108)
  167. “Desconfia de ti mesma, não pares em teu nada; sobe até o Coração Divino, lança-te nele, e seu amor misericordioso te fortalecerá.  Quão miseráveis somos: incapazes de amar o único objeto verdadeiro e bom.” (Diário e cartas, Carta 109)
  168. “Subamos com Ele ao Calvário. Tiremos-lhe a cruz, a coroa, o fel e o vinagre, e transpassemos nossos corações com a lança do soldado. Isabel, sejamos crucificados, sejamos hóstias pelo amor. Quando virá o ditoso dia que com a morte, rompendo as cadeias do pecado em que nossa alma vive, possamos dizer a nosso Deus: Já não te ofenderemos mais, e ninguém nem nada nos poderá separar de ti?” (Diário e cartas, Carta 109)
  169. “Às vezes, sinto o peso desta vida miserável. Quisera ver-me livre das misérias da carne; mas depois olho o tabernáculo e, ao ver que Jesus vive e viverá ali até o fim dos séculos em contínua agonia e abandono, tenho desejos de constituir-me sua companheira do desterro ao qual por nosso amo se sujeitou. A carmelita é hóstia, como já disse. Jesus é Hóstia no altar. Ocultar-se. Aparentemente a hóstia não vê, não ouve, não fala, não se queixa. Não é assim? Do mesmo modo, se queremos ser hóstias, devemos ocultar-nos dos olhares das criaturas, ocultar-nos em Deus, quer dizer, agir sempre não para buscar o agrado e obter as simpatias e o carinho das criaturas; ter sempre Deus por testemunha e objeto de nossos atos. A hóstia não tem vontade.” (Diário e cartas, Carta 109)
  170. “O fim da oração é inflamar-nos no amor de nosso Deus.” (Diário e cartas, Carta 109)
  171. “Como sou feliz em viver prisioneira com o divino Prisioneiro, consolá-lo com lágrimas, ajudá-lo a salvar almas, orando e sofrendo! Já comecei minha eternidade. Tenho tudo. Só me falta ver Deus face a face…” (Diário e cartas, Carta 111)
  172. “Amemo-lo muito.  Ele tem sede do nosso amor, porque não lhe basta o amor dos anjos. Depois que Jesus nos deu seu Pai e sua divindade se eclipsou, depois nos deu sua mãe e sofreu desde Belém até o Calvário e forjou para si cadeias a fim de viver no tabernáculo junto de nós, não teremos um pouquinho de amor para com este divino mendigo…?” (Diário e cartas, Carta 111)
  173. “Quisera fazer compreender às almas que a Eucaristia é um céu, visto que “o céu não é senão um sacrário sem portas, uma Eucaristia sem véus, uma Comunhão sem fim.” (Diário e cartas, Carta 112)
  174. “Aproveitemos para enriquecer no momento da comunhão. Banhemo-nos nessa fonte de santidade e peçamos-lhe o mundo inteiro das almas porque não nos saberá dizer não. Seu coração está batendo amorosamente, e em uníssono com o nosso, de modo que todos os nossos desejos são deles, e Ele é todo-poderoso. Que identificação tão grande! Somos, nesses momentos, outro Deus. Para mim esses momentos são céu sem nada de desterro. Que posso desejar se todo um Deus é meu?” (Diário e cartas, Carta 113)
  175. “Estou mergulhada n’Ele. Perdida em sua imensidão. Compenetrada por sua sabedoria. Vivendo porque Ele é meu princípio de vida, meu tudo. Busca-O e O encontrarás em tudo. Pensa que enquanto dormes, enquanto ages e vives, há um Ser infinito que se ocupa de ter de dar vida, de amar-te com um amor eterno, infinito…” (Diário e cartas, Carta 114)
  176. “Para isso, irmãzinha, fomos criadas: para louvar e amar a Deus. Tudo o mais é nada, é vaidade. Se cada manhã, ao comungar, nos preparássemos um pouco melhor, como nos aproveitaríamos de nossa comunhão!…Como passaríamos o dia inteiro em êxtase de amor para com esse Deus imenso, majestoso, feito alimento de nossas almas!” (Diário e cartas, Carta 114)
  177. “Sinto o Infinito, o Eterno, O Santo, Todo-Poderoso, o Sapientíssimo Deus unido com o nada pecador. Então adoro e amo mais. É quando a alma se sente pura, está na fonte da santidade.” (Diário e cartas, Carta 114)
  178. “Cumpramos, pois, a vontade de Deus em tudo, ainda que, às vezes, se apresente de um modo mortificante. Ainda que, às vezes, se apresente contrariando o nosso próprio parecer. Isto é amar a Deus. Isto é corresponder a esse amor infinito, divino.” (Diário e cartas, Carta 114)
  179. “Pergunto-me continuamente por que Deus me amou tanto, sendo eu tão pecadora, tão ingrata a seus numerosos benefícios. E só encontro a razão em sua bondade infinita. Ninguém senão Ele poderia amar uma criatura tão desprezível como sou.” (Diário e cartas, Carta 116)
  180. “Há dias em que consigo viver inteiramente para Deus. Então é quando me sinto no céu. É quando compreendo que “só Deus nos basta”. Fora d’Ele não há felicidade possível.” (Diário e cartas, Carta 116)
  181. “Meu ideal de carmelita é ser hóstia, ser imolada constantemente pelas almas, e meu fim principal é sacrificar-me para que o amor de Coração de Jesus seja conhecido. Quisera viver até o fim do mundo sofrendo junto ao divino prisioneiro.” (Diário e cartas, Carta 116)
  182. “Para mim é inconcebível que, tendo ansiado por ser feliz, não busques Jesus. Depois de comungar temos tudo, porque temos Deus, que é nosso céu no desterro.” (Diário e cartas, Carta 117)
  183. “Neste momento estou perdida em seu Ser Infinito. Ele me ama infinitamente, enquanto eu, seu nada criminoso, permaneço amando-O, pois cumpro sua divina vontade. Que doce coisa é pra alma viver assim como o Ser divino, compenetrada, unificada, pelo amor, com Deus!” (Diário e cartas, Carta 120)
  184. “Viva n’Ele pela fé. Entregue-se a Ele passivamente. Não deixará de se apoderar de seu ser interior. É todo o amor; e, para sua infinita bondade, só nós existimos. Respiremos, por assim dizer, o ambiente divino em que vivemos. Deus está em nós e em cada ser criado. Adoremo-lo com fé. Tudo muda quando se olha para este Sol divino.” (Diário e cartas, Carta 120)
  185. “Uma alma com fé tem tudo, porque tem Deus. Os sofrimentos se transformam com a fé.” (Diário e cartas, Carta 120)
  186. “Quão bem experimento que Ele é o único Bem que nos pode satisfazer, o único ideal que nos pode enamorar inteiramente. N’Ele encontro tudo. Gozo até o íntimo ao vê-lo tão formoso, ao me sentir sempre unida a Ele, já que Deus é imenso e está em toda parte. Ninguém pode separar-me. Sua essência divina é minha vida. Deus me sustenta, me alimenta a cada momento. Tudo quanto vejo me fala de seu poder infinito e de seu amor.” (Diário e cartas, Carta 121)
  187. “Unindo-me a seu ser divino me santifico, me aperfeiçoo, me divinizo.” (Diário e cartas, Carta 121)
  188. “Se te entregares à oração, conseguirás que Deus se manifeste a ti e te enamore d’Ele. Na oração nossa alma a busca e, se é com ânsias de conhecê-lo e de amá-lo, Jesus levanta um tanto o véu que o encobre e mostra sua divina Face radiante de beleza e suavidade. Outras vezes abre a ferida de seu coração e nos mostra os tesouros de sua infinita bondade e de seu amor. E outras vezes deixa ouvir sua doce voz que deixa a alma desfeita em seu amor e arrependimento.” (Diário e cartas, Carta 121)
  189. “Amemos o Amor eterno, o Amor infinito, imutável. Amemos loucamente a Deus, já que Ele nos amou desde toda a eternidade. Criou-nos, sem necessidade de nós. Toda obra de seu poder foi dirigida para o homem. Pôs tudo à nossa disposição. Continuamente nos sustenta e nos alimenta. E, para não se separar de nós na eternidade, nos deu seu Filho Unigênito. Deus se fez criatura. Padeceu e morreu por nós. Deus se fez alimento de suas criaturas.” (Diário e cartas, Carta 121)
  190. “A verdadeira carmelita, segundo entendo não vive, é Deus que vive nela. É isto que procuro realizar: contemplar incessante o Ser divino, perdendo meu nada criminoso em seu oceano de caridade. É isto que Jesus quer de mim: renúncia e morte do meu ser, para que Ele viva em mim.” (Diário e cartas, Carta 122)
  191. “Percamo-nos n’Ele negando-nos em tudo, para que Ele aja divinamente em nós.” (Diário e cartas, Carta 123)
  192. “Confiemos em Deus, mas também não se deve abusar de seu infinito amor. Por isso, o melhor é viver em paz com Nosso Senhor, de modo que, se a morte vier de repente, não nos surpreenda e aterrorize.” (Diário e cartas, Carta 126)
  193. “Que diferença tão imensa no modo de considerar a morte entre um cristão e alguém que não é! Este só encontra o vazio, o nada, o frio do túmulo. O cristão encontra o fim de seu desterro, de seus sofrimentos, o princípio de seus gozos eternos. Em uma palavra, encontra seu Deus, que é seu Pai, que velou sobre ele a cada passo dado no caminho do bem e da dor. Ali está seu Pai com os braços estendidos para recebê-lo e dar-lhe sua coroa. Que paz nos dá esta certeza, num transe tão horrível como é o da destruição de nosso ser.” (Diário e cartas, Carta 126)
  194. “O amor a Jesus dá forças e alegria e nos serve para cumular méritos para o céu. Como Jesus é bom- Ele que tanto nos ama! Amemo-lo e mostremos-lhe nosso amor recebendo-o todos os dias. Tiremo-lo de sua fria prisão e abriguemo-lo em nosso coração, tão pobre. Porém cheio de amor.” (Diário e cartas, Carta 128)
  195. “Vivemos só por Jesus. E, assim como os anjos no céu cantam incessantemente seus louvores, a carmelita os acompanha aqui na terra, seja junto do sacrário onde está o prisioneiro o Deus-amor, seja no íntimo do céu de sua alma, onde a fé lhe diz que Deus mora. Nossa vocação tem por objeto de amor, que é o maior que possui o coração do homem.” (Diário e cartas, Carta 130)
  196. “Que coisa mais preciosa haverá para a alma que ama do que passar a vida junto ao sacrário! Ele, prisioneiro por seu amor, e ela também. Nada nos separa, nenhuma preocupação. Só devem amar-se, e perder-se a criatura em seu Bem infinito. Ele lhe abre o seu coração e ali faz viver esquecida tudo o que é do mundo, porque lhe revela seus encantos infinitos, à vista dos quais tudo o mais é vaidade. Ele a estreita e a une a Si. Ele a alma, apaixonada e fora de si diante da ternura de um Deus, deixa as criaturas, e só quer viver a sós com o Amor.” (Diário e cartas, Carta 130)
  197. “Somos as hóstias onde Jesus mora. Nelas vive, ora e sofre pelo mundo pecador. Não foi  essa a vida mais perfeita das criaturas: a Ssma. Virgem? Ela guardava o Verbo no silêncio. Ela sempre orou e sofreu. Não é esta a vida de Jesus no sacrário?” (Diário e cartas, Carta 130)
  198. “Olha-O. Espera-te cheio de amor infinito e vai fazer de ti sua esposa.” (Diário e cartas, Carta 130)
  199. “Como não o amá-lo até o delírio, como não desprezar tudo diante do espetáculo de seus encantos e belezas infinitas? Ele reúne todas as belezas das criaturas, tanto as físicas como as intelectuais e as belezas do coração elevadas a um grau infinito. O que se pode buscar que não esteja em Jesus?” (Diário e cartas, Carta 130)
  200. “Como se sente feliz a alma quando se vê livre de tudo o que é do mundo e das criaturas!” (Diário e cartas, Carta 130)
  201. “Podes acreditar que, quando penso que ofendi a Deus, que foi e é a própria Bondade, que me deu o ser e tudo quanto possuo, que morreu por mim na cruz, e que se constituiu em meu alimento na Santa Hóstia, não posso deixar de sentir profundo pesar. Quisera tê-lo amado sempre, já que Ele me amou eternamente.” (Diário e cartas, Carta 131)
  202. “Ele, que viveu aqui na terra 33 anos, sabe o que é sofrer, pois sua vida foi um contínuo sofrimento, embora fosse Deus.” (Diário e cartas, Carta 132)
  203. “Ninguém sofreu tanto como Jesus e, da cruz, nos ensina a suportar todas as dores em silêncio e com resignação. Da cruz, Ele convida suas criaturas, com os braços estendidos, dizendo-lhes: “Vinde a mim, vós que estais sobrecarregados com o peso das dores, que eu vos aliviarei.” (Diário e cartas, Carta 132)
  204. “Vá a Jesus como ao amigo mais íntimo e conte-lhe tudo o que se passa em sua alma. Ninguém como Ele penetra seu coração. Ninguém como Ele saberá curar as feridas de sua alma, porque com a luz e poder infinitos vê e dá o remédio. Além disso, ninguém como Jesus o ama tanto, visto que deu sua própria vida para lhe dar o céu.” (Diário e cartas, Carta 132)
  205. “Quando penso que antes invejava Maria Madalena por ter tido Jesus tantas vezes em sua casa, por tê-lo escutado, envergonho-me, pois Ele não abandonou a terra. Está no sacrário. Ali o vejo pela fé e o escuto. Quando comungo, não só recebo sua visita exteriormente, mas minha alma está compenetrada pela d’ele. Que união mais íntima pode existir entre Jesus e sua pobre criatura?” (Diário e cartas, Carta 133)
  206. “Por seu amor, não terás força para vencer-te? Ele se sacrificou por ti desde que nasceu até o Calvário. E, ao ver um Deus ensanguentado pedindo que te venças, poderás não fazer?” (Diário e cartas, Carta 134)
  207. “Aqui no Carmelo, só existe Deus. Vivemos submersas n’Ele, em sua atmosfera divina de paz e amor. Somos – não duvido em dizê-lo – os seres privilegiados de N. Senhor; Pois Ele quer ouvir sempre a voz de louvor de sua carmelita. Seu canto ininterrupto de amor. Para isso a separa do mundo completamente, a traz à solidão, onde Ele se deixar ver, tocar, ouvir e conhecer.” (Diário e cartas, Carta 136)
  208. “A medida que se conhece a esse Deus-homem, se vai amando-o com loucura.” (Diário e cartas, Carta 136)
  209. “Como não amar esse Jesus com toda nossa alma? Ele, que é a beleza incriada; Ele, a Sabedoria eterna; Ele, a bondade, a Vida , o Amor. Como não poderá a alma abrasar-se em caridade à vista desse Deus que é arrastado pelas ruas de Jerusalém com a Cruz sobre os ombros; à vista desse Deus que se constitui em alimento de suas criaturas, fazendo-se pão para unir-se a elas, divinizando-as e transformando-as n’Ele? Oh! Ama Jesus! Quem poderá corresponder, depois de comungar, te diz; ‘Filha, dá-me teu coração’?” (Diário e cartas, Carta 136)
  210. “Um Deus infinito mendigando um pobre e mesquinho coração, embora Ele tenha derramado todo o seu sangue, embora Ele se tenha feito pão para alimentá-lo. Vive com Ele no íntimo de tua alma.” (Diário e cartas, Carta 136)
  211. “Ele deixa os anjos, milhões de pessoas, para entrar em tua alma, para consumar em ti a união mais íntima, para transformar-te em Deus, para alimentar em ti a vida de graça com a qual conseguirás o céu.” (Diário e cartas, Carta 137)
  212. “Vem em ti Jesus, o Esposo de tua alma, que te amou com amor eterno. Vem a ti meu Pai que te criou e te conserva a vida; teu Irmão, que te deu seu Pai do céu e sua Mãe, a Virgem; teu Pastor que tantas vezes te chamou com sua graça; teu Juiz, que vem para perdoar teus pecados; teu médico, que vem curar as feridas de tua alma; teu Mestre, que vem ensinar-te o caminho do céu; teu Salvador, teu Amigo. Teu redentor, que derramou até a última gota do sangue de seu coração; teu amor que morre por ti, que se converte em pão.” (Diário e cartas, Carta 137)
  213. “Temes aproximar-se d’Ele? Olha-o cercado de crianças. Acaricia-as, estreita-as contra seu coração. Olha-o no meio de seu rebanho fiel carregando sobre os ombros a ovelha infiel. Olha-o junto ao túmulo de Lázaro. E ouve o que disse à Madalena: Muito lhe foi perdoado porque muito amou”. O que nessas passagens do Evangelho, senão um coração bom, manso, terno, compassivo, um coração, enfim de um Deus?” (Diário e cartas, Carta 138)
  214. “Esse Jesus não quer que exista ninguém entre Ele e mim, e manifestando-se à minha alma e enamorou de tal forma que só n’Ele posso encontrar repouso.” (Diário e cartas, Carta 140)
  215. “Vivo só para Deus. Minha única ocupação é conhecê-lo para mais amá-lo. Comecei aqui na terra a vida no céu, vida criada e idealizada por Deus em sua eternidade; vida só de amor e de louvor incessante.” (Diário e cartas, Carta 141)
  216. “Sempre escuto sua palavra divina. Sempre olho e contemplo o meu Deus que me pede amor, porque Ele sabe que o amor encerra tudo: sacrifício e almas.” (Diário e cartas, Carta 141)
  217. “A vocação da carmelita está fundada no amor. Ela nada admite a não ser contemplar Jesus.” (Diário e cartas, Carta 141)
  218. “Ama-O muito, mas procura conhecê-lo. Na Eucaristia está, vive esse Jesus entre nós; esse Deus que chorou, que chorou, gemeu e se compadeceu de nossas misérias. Esse pão tem um coração divino com as ternuras de pastor, pai, mãe, esposo e Deus… Escutemo-lo, pois Ele é a Verdade. Olhemo-lo, pois é a fisionomia do Pai. Amemo-lo, que é o amor dando-se às suas criaturas. Ele vem à nossa alma para que desapareça n’Ele, para endeusá-la. Que união, por maior que seja, pode ser comparável a esta? Jesus é meu alimento. Sou assimilada por Ele. Que felicidade imensa é esta: estreitá-lo contra nosso coração sendo Ele nosso Deus!” (Diário e cartas, Carta 141)
  219. “Olha-o no silêncio de Nazaré, onde permaneceu trinta anos, e aprenderás a estar recolhida dentro de tua alma e silêncio… E assim em tudo.” (Diário e cartas, Carta 141)
  220. “Creia-me, ao menos para mim a Paixão de Jesus Cristo é o que mais ajuda minha alma: aumenta em mim o amor ao ver quanto sofreu meu redentor; o amor ao sacrifício, ao esquecimento de mim mesma, serve-me para ser menos orgulhosa. Excita-me na confiança a esse meu Mestre adorado, que sofreu tanto por me amar.” (Diário e cartas, Carta 143)
  221. “A confiança é o que mais agrada a Jesus. Se confiamos no coração de um amigo que nos ama, como não confiar no coração de um Deus, em que reside a bondade infinita, da qual bondade das criaturas é uma pálida sombra. Não é um crime desconfiar  do Coração de um Deus que fez homem, que morreu na cruz como malfeitor, que se dá em alimento a nossas almas diariamente para se fazer um com suas criaturas?” (Diário e cartas, Cartas 143)
  222. “Chorar muito pelas faltas que se cometem não é humildade, ainda mais se são involuntárias. Deve, imediatamente ao cair, pedir perdão a Jesus e, em seguida – como uma criança com sua mãe-, recostar-se em seu coração, confiante de que não só perdoou, mas as esqueceu. Somos miseráveis e caímos a cada passo. Somos crianças que ainda não sabemos andar. Como Jesus vai se ofender por quedas que têm por causa nossa ignorância, nossa fragilidade?” (Diário e cartas, Carta 144)
  223. “Olho, nesse instante, meu Jesus e rio do mundo inteiro com Ele. Deixa-me chorar entre seus braços todo dia, enquanto os demais riem e se divertem; pouco me importa chorar olhando a alegria infinita, experimentar a amargura junto à doçura infinita de Jesus.” (Diário e cartas, Carta 149)
  224. “O melhor é amar a vontade de Deus. Ali encontramos a cruz melhor que em qualquer outra parte. Ali cresce essa árvore bendita retamente, sem impedimento, pois é sem escolha nossa, sem satisfação alguma.” (Diário e cartas, Carta 149)
  225. “Deus, em si, faz sempre o que quer; que nós, perdidas como nada em sua imensidade, façamos também o que ele quer. Como seremos mais semelhantes a Ele senão fazendo sua divina vontade?” (Diário e cartas, Carta 149)
  226. “Ao agir conforme a Deus, somos outro Deus; numa palavra, somos Ele.” (Diário e cartas, Carta 149)
  227. “Não vejamos n’Ele mais que amor, já que Deus é amor. O amor é sua essência, no amor se encontram todas as suas perfeições infinitas.” (Diário e cartas, Carta 149)
  228. “Ele é toda ternura, todo amor para com suas criaturas pecadoras. Ele mora no sacrário com o coração aberto para receber-nos e, ali, nos aguarda para nos consolar.” (Diário e cartas, Carta 150)
  229. “Como não morrermos de amor ao ver que a Deus não basta fazer-se criança, sujeitar-se a nossas misérias, ter fome, sede, sono, cansaço, sendo Deus, não lhe basta passar por um pobre carpinteiro, mas se humilha até a morte de cruz – morte de criminoso naquele tempo -; não lhe basta dar-nos, gota a gota, seu sangue divino. Quer mais em seu infinito amor.” (Diário e cartas, Carta 151)
  230. “Tratem de conhecer Jesus, o amigo íntimo de nossas almas. N’Ele encontrarão a ternura de uma mãe em grau infinito; Olhem Jesus aniquilado no presépio, na cruz, no sacrário. Dali nos diz quanto nos amou.” (Diário e cartas, Carta 151)
  231. “Um dia virá, na vida, em que lutarás sem ninguém. Quem será, então teu apoio? Deus. A morte te abrirá também um abismo de mistério; e tu estarás só com Deus.” (Diário e cartas, Carta 159)
  232. “Por que não amar esse Deus que, não necessitando de nós, nos ama, nos olha e sempre nos prodigaliza seus bens? Viver de amor, viver no céu, em Deus. Esta é a única felicidade da alma de tua carmelita. Não te oculto que há sofrimentos, mas na cruz está o amor, e, amando, se é feliz.” (Diário e cartas, Carta 159)

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